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Compreendendo a vergonha

Foto do escritor: Antônio FerreiraAntônio Ferreira

Neste artigo, você vai compreender:


  1. A Natureza Multifacetada da Vergonha: Descubra como a vergonha, mais do que um simples desconforto, reflete complexidades emocionais, sociais e psicológicas, informando sobre limitações pessoais e o medo de não ser valorizado.

  2. Os Impactos da Vergonha e Como Enfrentá-la: Aprenda sobre as consequências da vergonha na autoestima e nas relações sociais, além de estratégias para reconhecê-la, aceitá-la e superar os desafios que ela impõe.

  3. Diferenças entre Vergonha Saudável e Patológica: Entenda a distinção entre a vergonha que motiva o crescimento pessoal e a vergonha tóxica que leva a um ciclo de autojulgamento negativo e isolamento, e como cada uma afeta a percepção de si mesmo.





Dar nome às emoções, ao que se sente, ou descrever as situações com clareza é uma habilidade capaz de evitar ou amenizar muitos sofrimentos psicológicos, emocionais e - por que não? - existenciais.


Fernando Sarráis, no livro “Compreender a Afetividade”, descreve a vergonha como uma emoção que informa sobre um certo mal-estar consigo mesmo.


A vergonha é a tomada de consciência de um limite ou uma carência de um bem físico, psicológico ou social e está relacionada ao medo de a pessoa não ser valorizada e, por isso, não ser querida.


Esse medo provoca o sofrimento psicológico de insatisfação, de solidão, pois toda pessoa tem a necessidade de se sentir amada.


Raramente a vergonha ocorre por qualidades positivas que se tem.


Quando acontece de ter vergonha por suas qualidades positivas, dos seus sucessos ou realizações, é por receio de ser observada ou analisada pelos outros ao ponto de descobrirem seus defeitos.


De um modo geral, pessoas envergonhadas evitam a exposição para que seus defeitos não sejam percebidos.


No entanto, uma pessoa considerada “sem vergonha” é aquela que mostra ou dá a notar seus defeitos abertamente.


Esse tipo de pessoa “sem vergonha” costuma ser considerada por algumas pessoas como corajosa ou atrevida, levando em conta que certos defeitos dependem de normas sociais ou morais aceitas ou não pelos outros.


Às vezes, é o anseio de ser considerada uma pessoa atrevida ou corajosa que leva alguém a se vangloriar dos seus defeitos, da sua má educação ou da sua desobediência às normas.


Enquanto emoção, a vergonha possui dois aspectos: informativo e impulsivo. O aspecto informativo informa sobre um limite ou carência de um bem, trazendo o perigo de não ser querida ou rejeitada, ameaçando a pessoa de sofrimento.


É esse aspecto informativo que mobiliza a pessoa a lutar para evitar tal defeito ou limite e assim melhorar, a fim de ser uma pessoa boa ou querida.


Como um tipo de medo de não ser valorizada ou querida pelos outros, a vergonha costuma aparecer na presença de testemunhas da carência de um bem ou diante de um limite que a pessoa possui, mas não costuma surgir na ausência de testemunhas.


Mas, uma pessoa pode sentir a vergonha, seja por si mesma, seja por entes queridos, mesmo quando não há a presença de observadores, pois estes são espectadores imaginários, projetando assim a reação negativa da vergonha.


É interessante notar que a carência de um bem ou de um limite (defeito, imperfeição, erro, falta), vivido como vergonhoso, é sempre um bem ou limite considerados valiosos num certo contexto social ou cultural, fazendo com que as pessoas busquem tais bens ou superar certos limites para serem valorizadas pelos outros.


Deste ponto de vista, as pessoas têm muitos motivos para sentir vergonha: defeitos físicos ou psicológicos, notas ruins ou reprovação escolar, perder em alguma competição, pertencer a certos grupos, sofrer de uma doença da qual não se tem culpa, ter nascido em algum país, a pobreza, errar, ter objetos pessoais de pouco valor, como um carro, roupas baratas, etc.


Pode parecer a solução mais comum, mas não é buscando aquilo que é considerado perfeito ou ideal que uma pessoa conseguirá se livrar da vergonha, pois o perfeito e o ideal são ilusões criadas por uma certa cultura ou grupo social, mas aceitando quem se é, abrindo mão do desejo de se conformar a esses parâmetros.


Por estarem fixadas pela perfeição ou por algum ideal, muitas pessoas sentem vergonha de si mesmas por se sentirem carentes e limitadas por olharem para si mesmas com os filtros da perfeição e do ideal que escolheram para julgar a si mesmas e não percebem as características valiosas que já possuem.


Existem aquelas pessoas com uma vergonha considerada normal, pois orientam sua conduta e indicam as melhorias que devem ser feitas em seus defeitos reais e capazes de serem modificados. São pessoas com estima realista.


E existem aquelas pessoas que sofrem de uma vergonha patológica, ou aquilo que John Bradshaw chamou de “Vergonha Tóxica”. Nos dedicaremos exclusivamente à vergonha tóxica em outro momento.


Fernando Sarráis entende o sofrimento da vergonha patológica como uma presença excessiva ou habitual, causada por defeitos imaginários ou por algo que não foi causado pela pessoa, como algo de nascença, ou que não podem ser modificados.


Fernando Sarráis identifica a origem da vergonha patológica numa falta de amor próprio que gera uma relação da pessoa consigo mesma de forma distorcida, levando a pessoa a ver defeitos onde não há ou exagerar os defeitos reais, os pequenos erros e limitações.


O transtorno dismórfico corporal é considerado um exemplo de extrema vergonha com o próprio corpo, causando limites de convivência e sociabilidade.


Para finalizar, vou comentar rapidamente sobre a “vergonha alheia”.


A vergonha alheia surge quando é identificado um limite, um defeito, um comportamento ruim ou inadequado. Quando alguém sente vergonha alheia, ela está, consciente ou não, se identificando, tendo empatia, com a pessoa que avalia a pessoa com um defeito, limite ou mau comportamento. Acontece uma identificação e por isso sente a vergonha quase como se fosse própria.


A vergonha é considerada uma emoção negativa, causa de sofrimento e vem sempre acompanhada de outras emoções negativas, como o medo (de não ser querida), a tristeza (pela relação ruim consigo mesma) e a ira (pelo sofrimento experimentado) e por levar a condutas negativas como evitar o convívio social, a exposição e a se esconder.


Espero que este breve artigo te ajude a nomear a vergonha e assim, aceitando as próprias carências e limites, melhore a relação consigo mesmo. A estima realista, isto é, a percepção dos defeitos, carências e limites é a atitude mais adequada para que você possa crescer pessoalmente.



 
 
 

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